domingo, 28 de fevereiro de 2010

Comunicação intercultural

Diário de bordo. 28 de Fevereiro. Após duas semanas sem postar devido a minha "desvontade" (segundo Tatiana Belinki) ou mesmo devido a falta de tempo, volto para postar como havia dito, um texto sobre comunicação intercultural. Aqui vai.
Você já se perguntou o que é ser brasileiro? Eu já. Não achei nenhuma resposta. A identidade brasileira pode ser muito bem descrita pelo antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro, porém achar essa resposta não é o objetivo desse texto. Mas porquê menciono a identidade brasileira? Ora, porque sou brasileiro e me comporto como tal. Aliás existe uma série de comportamentos que podemos dizer que é comum a muitos brasileiros: saudações calorosas (aperto de mão, beijos no rosto e/ou abraços); dizer "oi" ou "e aí, beleza?" várias vezes ao longo do dia; combinar coisas de última hora (happy hours e etc); e etc. Com certeza você deve ter muitos outros costumes que podem ser adicionados a essa lista. Na verdade, nunca cheguei a pensar como eu me comportava afinal, apesar de existirem milhões de brasileiros e se comportarem de forma peculiar temos comportamentos parecidos. Porém, comecei a pensar em como me comportava quando comecei o meu doutorado por aqui. Apesar de ter morado no Japão por 5 anos, nunca havera percebido como eles se comportam, mesmo porque era muito novo para pensar nisso (tinha apenas 15 quando sai de lá).
Comecei a perceber algumas diferenças de comportamento do tipo, após um jogo de futebol (não sabia nem onde eu estava, minha primeira semana por aqui) que eu tinha ido com um Pos-doc (pos doutorando) do meu lab, dentro da minha cabeça o cara ia me dar uma carona de volta, pelo menos para um ponto de onibus ou algo do tipo, aí o cara disse: "até amanhã". Ai pensei comigo, vou jogar um verde (Brazilian style) senão o cara vai me deixar aqui e não sei nem voltar para casa. Perguntei: "onde tem um ponto de onibus aqui perto?". Ai o cara caiu, UFA... em fim consegui uma carona. Essa, entre outras, foi uma das situações que entendi o que as pessoas diziam sobre os alemães, chamando eles de FRIOS.
Há mais ou menos 1 mês atrás, tive um curso de comunicação intercultural e aprendi muita coisa, principalmente com relação ao comportamento não só dos alemães, mas sobre o nosso comportamento perante as outras culturas também num ambiente internacional. De acordo com a teoria implementada no curso existem dois "padrões" de comunicação, no jargão sociológico é definido como comunicação de BAIXO CONTEXTO ("Low context communication") e de ALTO CONTEXTO ("High context communication"). Antes de explicar ambos, vale a pena dizer que esses são os dois EXTREMOS. Por exemplo, países como Alemanha, EUA e Austrália utilizam da comunicação de baixo contexto. Enquanto que países como Japão, México e Finlândia por exemplo utilizam, majoritariamente da comunicação de alto contexto. Mas o que seria esses dois padrões de comunicação? Certo, em poucas linhas, as sociedades que utilizam a comunicação de baixo contexto são governadas pela RAZÃO, FATOS e CLAREZA na comunicação - PRAGMATISMO. Tendo esses elementos na comunicação o padrão de competência de uma pessoa é determinada pela capacidade INDIVIDUAL pelo equilíbrio dessas três principais características da pessoa. Por um outro lado, a comunicação de alto contexto é baseada nas RELAÇÕES INTER-PESSOAIS, APARÊNCIA, HARMONIA e CONFIANÇA. Sendo que nesse tipo de contexto de comunicação a capacidade de manter a harmonia num dado ambiente sem "conflitos" (na forma de discussão), por exemplo, se tornam características importantes para a determinação da competência de uma pessoa. Sendo assim, o COLETIVISMO se torna um dos pilares da comunicação. É importante frisar que a existência desses extremos não significa que não possa exister uma sociedade (país) que tenha um pouco de cada extremo em seu estilo de comunicação. Existem nações que representem os ambos extremos, mas não signica que elas não possam apresentar um ou outro elemento do outro estilo de comunicação.
Para se tornar um pouco mais clara essa idéia, vou citar um exemplo dado no curso para percebermos como essas diferentes maneiras de comunicação podem ser expressas. Consideremos uma situação em que o diretor de uma empresa vai ter a visita de algum superior da mesma empresa e quer causar uma boa impressão de seu departamento perante o seu superior. Veja como esse diretor se dirige aos seus funcionários de acordo com o seu país:
- Alemanha: "Bom dia à todos. Nesta próxima segunda-feira teremos a visita do supervisor "x" então, por favor organizem as estantes e as suas respectivas áreas de trabalho."
- Inglaterra: "Bom dia à todos. No próximo início de semana, teremos a visita do supervisor "x" e gostaria de ter a colaboração de todos para que possamos causar uma boa impressão, portanto se possível deem uma organizada no nossa ambiente de trabalho, por favor. Obrigado pela atenção."
- Japão: "Bom dia à todos. Recentemente, recebi a notícia de que TANAKA-SAN tem feito sucessivas visitas a diferentes departamentos da nossa empresa e na a sua última visita recebi muitos elogios devido a nossa organização e limpeza. Gostaria de agradecer a todos pela colaboração e espero que nessa próxima visita possamos ter sucesso como da última vez."

Bom, qual era o objetivo mesmo? Ahh verdade, ter o escritório limpo e organizado para causar uma boa impressão, certo? Como voces podem perceber, na Alemanha o diretor é bem DIRETO, não deixando muitas "brechas" para a falta de compreensão do que deve ser feito. Já no caso ingles a "ordem" é muito mais um "pedido", ou seja, se torna uma coisa um pouco menos invasiva e menos DIRETA. Na última "ordem" do diretor japones, não me pergunte como eles compreenderam o que era para ser feito e para quando, mas de fato eles entendem! Agora imaginem se um diretor japones chegue para funcionários alemães (vamos considerar o ingles como lingua oficial) contando essa história de doido ai em cima, qual a chance de que a tarefa (organizar o escritorio) seja efetuada? Eu diria que mínima.

Considerando esses dois padrões de comunicação, a maioria dos países fica bem no meio com maiores ou menores influências de cada um, por exemplo o Brasil está muito mais para um país que utiliza a comunicação de alto contexto do que a de baixo contexto. Temos uma grande influência do COLETIVISMO e muitas vezes algumas discussões, políticas por exemplo acabam indo para o lado pessoal. Diferentemente dos alemães que têm um tipo de linguagem própria para discutir política e isso não ultrapassa a barreira pessoal porque qualquer discussão deles é baseada na RAZÃO e FATOS. Por isso são vistos como "FRIOS".

Para fechar o post, voltando aquele exemplo de que quase fiquei sem carona, eu simplesmente deveria ter pedido para o pos-doc me dar uma carona, seria normal, pois para os alemães se voce quer alguma coisa, essa coisa é dita DIRETAMENTE, sem rodeios. A princípio achava que eles não eram prestativos, pelo fato de que eles não se oferecem para ajudar ou algo do tipo, mas o FATO é que eles só vão te ajudar se voce PEDIR. Aqui as coisas funcionam assim. Duro, não? Também acho... mas temos que estar a aberto para entender esses diferentes padrões já que estamos num mundo chamado de "globalizado" e inevitavelmente iremos nos deparar com pessoas de diferentes nacionalidades.

É isso ai galera, vou ficar por aqui. Ainda não decidi qual o será o próximo post, aguardem e verão!

"Entrou por uma porta, saiu por outra, quem quiser que conte outra..."

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Ciência

Olá pessoas como passaram essa semana? Espero que bem! Na terra de Bach as coisas continuam as mesmas, com a diferença que estou com uma nova aparência... É isso aí, após 4 meses por essas bandas resolvi cortar o cabelo! Já estava me enchendo o saco aquele cabelo na cara.
Bom, mas vamos direto ao assunto, já que no post anterior disse que iria explicar as minhas motivações e objetivos nesse blog. Para começar, o nome do blog é uma expressão cultural estadunidense que significa "Não enrola, diga logo!", "Seja direto" ou melhor "Chega de enrolar e vá direto ao assunto". Essa é a idéia do blog, ser direto e preciso no que penso e ao mesmo tempo expor novas idéias sobre ciência, política e sociedade. Além disso, quero transmitir a todos que não podem estar comigo nessa jornada as minhas experiências vividas.
Vamos ao primeiro assunto então: Proteoma.
No meu primeiro post coloquei que estou numa área da ciência chamada de PROTEOMA (em inglês Proteomic), mas o que de fato significa isso? Se vocês se lembrarem do projeto GENOMA tudo fica mais fácil. Como vocês sabem o projeto GENOMA tinha o objetivo de fazer o mapeamento dos GENES humano na tentativa de compreender a origem de algumas doenças e/ou cura para a mesma. Após um extenso período de pesquisa, o que foi descoberto? Que o GENOMA humano apresenta uma enorme semelhança com os GENOMA de outros animais como mosca, grilo, boi, macaco e etc. Não estou desmerecendo o Projeto Genoma, mesmo porque o sequenciamento dos nucleotídeos tem uma grande importância para compreender as possíveis falhas no processo da transcrição o que em outras palavras permite prever se existe ou não a possibilidade de ter uma doença hereditária, por exemplo. O fato é que a complexidade dos seres vivos não se resume a sequência de nucleotídeos. É necessário compreender como essa sequência está expressa, no metabolismo de um ser vivo.
Com o pareamento de 23 cromossomos da mãe e mais 23 cromossomos do pai (para humanos) inicia-se a vida. A formação da primeira macromolécula, DNA, é onde tudo começa. Em seguida o DNA sintetiza todas as organelas necessárias para a replicacao, chamamos esse conjunto de organelas de... Célula. Dentro da célula existe uma organela conhecida como Ribossomo. Esse é responsável por "codificar" a informação trazida pelo RNA transportador (tRNA) do DNA (através do mRNA), onde cada CODON (sequência de 3 nucletotídeos) dá origem a um aminoácido. Dentro do ribossomo uma sequência de aminoácido é formada dando origem a longas cadeias de aminoácidos, conhecidos como peptídeos e posteriormente, uma PROTEÍNA. Isso mesmo! Famigeradas protéinas, fonte de energia do nosso corpo, as quais têm uma variedade de funções: catalíticas (enzimas), transporte (proteinas transmembrana), estrutura (colágeno) e etc. O que eu quero dizer com tudo isso é que quem controla o QUANTO de proteína vai ser produzida e QUAL proteína vai ser produzida é o DNA, ou seja, informação genética. Porém, o QUANTO de QUAL proteína está sendo produzida é o que nos faz entender como nosso organismo está funcionando. Portanto PROTEOMA é o estudo QUANTITATIVO e QUALITATIVO das proteínas expressas pelos GENES. Para resumir, constumo dizer que GENOMA é o quanto você se parece com seus pais e PROTEOMA é o que te faz ser diferente.
Bom galera, essa semana o tópico pode ter sido um pouco chato, mas como estou começando o blog agora, era necessário esclarecer pelo menos a área de pesquisa que estou atuando, né? hehehehe
No próximo post haverá mais chances para discussão... pois o tópico será SOCIEDADE.
Abraços e até a próxima semana.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Saudações da terra de Bach

Olá galera, estou começando meu blog e não teria maneira melhor de começar um, com uma apresentação pessoal. Meu nome é Fernando e atualmente resido em Leipzig, Alemanha e estou fazendo meu doutorado na UFZ (Umweltforschungzentrum), em outras palavras, Centro de Pesquisas Ambientais na área de Proteoma. Leipzig é uma cidade única, eu diria, pois está situada no leste da Alemanha no estado da Saxonia (Sachsen) onde foi a Alemanha Oriental até 1989 quando houve a queda do muro de Berlin dando fim ao mundo bipolar. Digo que ela é única devido a sua riqueza histórica, cultural, artística e política por onde grandes nomes da história passaram por aqui, como o escritor Johann Wolfgang von Goethe, o músico Johann Sebastian Bach entre outros. Além disso, hoje Leipzig, mais do que outras cidades alemãs, as contradições do mundo contemporâneo, uma vez que ficou sob influência soviética até 1989, após 20 anos de queda do muro sofre para acompanhar o "desenvolvimento" das outras cidades do lado Ocidental. Tendo um alto índice de desemprego, quando comparado as outras cidades alemãs e seus trabalhadores recebem em torno de 30% a menos do que seus compatriotas do lado Ocidental. Infelizmente, é muito comum encontrar pedintes nas ruas. Em contrapartida, o custo de vida é muito baixo o que facilita o acesso eventos culturais e esportivos. É possível comprar um ticket mensal de Strassenbahn (TRAM) - bondes elétricos - por 52 EUR. Cervejas (Schwarzbier - preta ou Weissbier - branca) por menos 1 EUR com uma variedade infinita. Um prato típico alemão, o Schnitzel (Schweine- ou Puten-) pode ser encontrado por menos de 5 EUR. Para finalizar, Leipzig está no TOP 10 "Das cidades que voce deve visitar em 2010" pelo site do jornal estadosunidense New York Times (não que essa seja uma referência para aqueles que querem viajar, mas... hehehehe). Como voces podem ver pelo link: http://www.nytimes.com/2010/01/10/travel/10places.html
Bom galera, vou fechando por aqui e no próximo post explico melhor as minhas intenções e objetivos para a criação desse blog, ok? Bjos e Abraços! Fui!